O Sapo Cultural

Sapo Cultural: substantivo masculino 1) Bronca ou sermão de conteúdo ou natureza cultural; 2) Discurso desnecessáriamente longo (e com freqüência desagradável) que tem como objetivo aumentar a cultura, mesmo a contragosto, dos ouvintes.

15 maio 2007

Frank Miller

Eu estava justamente pensando em postar um ensaio a respeito do velho louco Frank Miller, mas parece que a Mestra se adiantou e escreveu isso aqui antes. Não concordo com tudo o que ela disse, mas vou guardar meus comentários para a sessão de comentários.

Sabe, eu tive um insight sobre o Frank Miller que eu acho que esclarece (quase) tudo.

Enumere aí as obras famosas do cara: "Cavaleiro das Trevas", "300", "Sin City", o recente "All Star Batman & Robin" (note a ausência de Ano Um). Eu li todas essas - tá bom, tá bom, Sin City eu só li algumas -, e digo que, essencialmente, elas são todas iguais. Não, não, não venha dizer isso ou aquilo sobre como "300" é baseados em fatos históricos e sobre honra e glória, enquanto o "Cavaleiro" é uma obra povoada de elementos pop anos oitenta sobre um personagem absolutamente ficcional, e recriado por Miller. Tudo isso confere, mas só até certo ponto.

Na verdade, as histórias do Frank Miller (quase todas) não são sobre Leônidas, Marvin, Bruce, ou qualquer um desses caras. Não, não senhor. As histórias do Frank Miller são do Frank Miller, e é isso aí. Não importa muito o sujeito que está lá protagonizando aquele bafuá de violência e podridão que são os cenários do Frank Miller. Não importa o vilão perverso e ultra doentio da vez. Sequer importa em que século são passadas essas histórias. Não, nada disso importa, porque o Frank Miller só sabe escrever uma história e pronto (tá bom, tá bom, duas...!).

Pegue Cavaleiro das Trevas, essa "obra prima"; eu comprei a versão definitiva de Cavaleiro, que vem o 1 e o 2, e pude sentar e ler tudo de uma vez, e ler com calma, e ler a apresentação do Frank Miller... enfim, tive todo o tempo para examinar esse trabalho que será lembrado para sempre e que mudou não apenas os quadrinhos, mas teve mesmo um impacto em todas as mídias. Pois bem, a brilhante obra, se vocês querem saber, continua muito boa (parte um, veja bem). Divertida, emocionante, e o melhor ritmo que você pode encontrar em quadrinhos - isso o cara tem. Sabe, muitos autores tem problemas para contar histórias fortes e lineares, mas não o Frank Miller. Não, aí o cara é bom, e não se intimida.

Seja como for, com todos esses elogios, eu chego à segunda parte do Cavaleiro das Trevas. O retorno, a infame continuação. Todo mundo adora falar mal. Todo mundo reclama. Todo mundo diz que é porcaria. E é?

Mais ou menos. Sabe, eu teria cuidado em difamar essa revista, porque notei que, de certa forma, ela é uma continuação absolutamente plausível e razoável da primeira parte, com um enredo que, pensando bem, não é assim tão mais doido que o da primeira parte. Porque, realmente, a primeira parte tem uma história bem doidinha, e bem feita só para culminar no Batman batendo no Superman. Ah! E para o Coringa morrer mesmo. Basicamente isso. Porém, ainda mais fascinante é notar que, depois de ler muitas histórias épicas do Frank Miller, sim, são todas IGUAIS! No fim, o pobre do Batman, mesmo em Cavaleiro das Trevas, nada mais é do que um instrumento do Frank Miller para metaforizar o mundo dos anos oitenta e despencar seu ódio fascista - o que ele prosseguiu fazendo por agora vinte anos, com muito sucesso. "Cavaleiro das Trevas" é puro Frank Miller, atenuado aos nossos olhos pela figura implacável mas absolutamente cativante do Batman. Então, lemos "Cavaleiro das Trevas" por anos achando que era uma grande história do Batman, mas hoje, afinal, está claro para mim que não é uma história séria e adulta sobre um super-herói, mas sim uma história com um super-herói sobre um mundo sério, imundo, e corrupto. O Batman não é o dono da história, afinal. Ele poderia ser facilmente o Marv, ou o Hartigan, ou, forçando uma barra, até o Leônidas. Todos ali, difamando a corrupção, amaldiçoando os molódes do mundo, xingando a mídia mentirosa e burra. E dando um pau no Superman.

Porém, o status de ex-grande escritor de quadrinhos do Frank Miller ainda se mantém por ao menos uma obra: "Batman: Ano Um". Essa sim é uma boa revista. Sim, tem o viés Frank Miller, têm os tiras corruptos e o Gordon tem lá um jeito de Hartigan, mas... mas o Bruce Wayne é perfeito. A origem é perfeita, o Batman é mesmo o herói dessa história. Ele faz e acontece, e, no fim, até consegue mudar o mundo um pouquinho (pra melhor!). O Batman é mesmo mostrado como um herói, com sensibilidade, senso de justiça, enfim, melhor que um explorador de menores rabugento que faz do mundo seu campo de batalhas pessoal. Muito bom.

Enfim, esse foi meu insight. Devo dizer que eu não li a fase do "Daredevil" do Frank Miller, então não sei se faria parte da exceção (Ano Um), ou da regra (mundo cão e protagonistas violentos e duros). Se algum de vocês tiver lido, me conte.
Escrito por
Mestra
Editado e postado por Sgt. Pimenta

1 Comments:

At terça-feira, 15 maio, 2007, Blogger Sgt. Pimenta said...

Concordo com tudo o que você falou sobre o Frank Miller só escrever um único tipo de história. É sempre aquele negócio de o-mundo-é-uma-merda-e-eu-vou-consertá-lo
-com-os-meus-punhos.
Nesse sentido, acho que "Ano Um" não é tão excessão assim como você gostaria. "Ano Um" é diferente, é verdade - e eu aposto que tem o dedo do desenhista David Mazzucchelli nessa diferença - mas não é tão diferente.

Dito isso, acho que você foi bastante injusta com "Cavaleiro das Trevas".
Em primeiro lugar: dizer que DK2 é uma continuação "absolutamente plausível e razoável da primeira parte" é tão incorreto que eu fico me perguntando se eles não alteraram a história desde a última vez que eu a li...
Sobre o "Cavaleiro das Trevas" original: o confronto entre Batman e Superman, não é apenas uma justificativa para a merecida surra que o Homem de Aço leva. O confronto entre esses dois heróis era algo inevitável, mas que sempre foi subestimado pelos editores e escritores da DC. Um é um cara bonzinho que acredita que a vida é boa e está sempre disposto a salvar gatos em cima das arvores. O outro é um cara amargo, violento, que tem motivos pra não aceitar a vida como ela é. No final das contas, isso leva a um confronto a respeito da manutenção do Status Quo. O Superman sempre será o cara disposto a ajudar quando o presidente pede. O Batman, por sua vez, é um cara que não se importa em agir na clandestinidade.
Agora, se tudo isso cria uma situação em que o Frank Miller escreve mais uma de suas histórias de protagonistas violentos em um mundo cão, que seja. Pelo menos, essa - assim como Ano Um - é uma boa história.

 

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