O Sapo Cultural

Sapo Cultural: substantivo masculino 1) Bronca ou sermão de conteúdo ou natureza cultural; 2) Discurso desnecessáriamente longo (e com freqüência desagradável) que tem como objetivo aumentar a cultura, mesmo a contragosto, dos ouvintes.

11 novembro 2006

O Grande Truque

The Prestige(2006), o mais novo filme do diretor Chris Nolan (Amnésia, Batman Begins), é baseado em um livro homônimo de Christopher Priest e conta a história de dois ilusionistas rivais da Inglaterra vitoriana. Esse é um período histórico que eu particularmente acho muito interessante. A ciência moderna estava no seu auge, e parecia que não havia mistérios ou problemas que o homem não pudesse resolver, desde que fosse razóavel, metódico e científico. Por outro lado, havia um grande interesse pelo oculto e pelo misticismo, e uma boa dose de superstição fazia parte da vida do homem comum. Essas características contraditórias do homem moderno - a confiança na razão e o fascínio pelo místico - permeiam toda a película.
O filme é uma história muito inteligente e bem contada sobre rivalidade e sobre obssessão. Os dois antagonistas, Robert Angier e Alfred Borden, se vêem envolvidos num ciclo ascendente de rivalidade e ressentimento mútuo. O curioso é que o objetivo dos dois não é - pelo menos a principio - nada tão simples como a mera destruição do rival. Mais do que se matar, os dois querem superar um ao outro, desvendando os truques e sobrepujando as performances um do outro.
[Muito significativa a este respeito é a cena em que Angier, que havia ido ao teatro onde Borden estava se apresentado pretendendo com a óbvia intenção de agredí-lo e constrangê-lo na frente da platéia, mas desiste depois de assistir a apresentação do colega, obcecado com a ídeia de desvendar e superar o Grande Truque do rival.]
Em comum, os dois protagonistas dividem o ressentimento mútuo e o amor à arte. O que motiva cada um, no entanto, são aspectos diferentes e complementares do seu ofício. Para Angier (Hugh Jackman), o que é importante é o espetáculo, a reação da platéia, o resultado da performance. Para Borden (Chritian Bale), é a técnica que importa - e os sacrifícios que ela exige, o esforço que é necessário para chegar a este resultado. Assim, as técnicas de cada um são complementares, e o filme aborda isso muito bem: enquanto Angier é um artista mais habilidoso, sabendo como manipular e encantar o público, Borden é um ilusionista mais competente e determinado. Um é um artista que compensa sua mediocridade técnica com um espetáculo; outro é um especialista técnico, negligente com o lado performático que o ilusionismo exige.
A história é contada com habilidade, e o público acompanha paralelamente três momentos diferentes. O filme começa, na verdade, pelo fim da narrativa, e a medida em que um personagem lê o diario de outro, vamos descobrindo, atráves de flashbacks, o que aconteceu antes, e como a história chegou até aquele ponto.
Um dos pontos fracos do filme, no entanto, tem a ver com a reviravolta final - justamente com the prestige, usando o vocabulário introduzido pelos personagens. O problema é que, na minha humilde opinião, o filme dá muitas pistas a respeito dessa surpresa final, ou talvez demore demais para finalmente revelar o enigma ao público. De qualquer modo, é possível desvendar o mistério muito cedo, e eles subestimam a inteligência do espectador guardando a revelação até o último momento do filme. De fato, o final do filme chega a ser anti-climático, com direito a discursos longo e redundantes sobre as motivações de certos personagens, e explicações desnecessárias a respeito dos truques dos protagonistas.
Felizmente, ao contrário de tantos outros filmes que andam sendo produzidos por aí, o mérito do filme não depende desse final surpreendente. The Prestige continua sendo um bom filme, mesmo se você decifre o enigma antes do fim, graças às excelentes atuações e à abordagem inteligente e criativa sobre rivalidade e obssessão. No geral, vale um sólido 9. Não é o melhor filme de Chris Nolan, mas certamente vale o ingresso.

10 novembro 2006

O Grito, de Edward Munch

Porque pagar sapo também é cultura!

Uma humilde homenagem. Espero que ninguém se sinta ofendido pelas minhas pobres habilidades como desenhista...