O Sapo Cultural

Sapo Cultural: substantivo masculino 1) Bronca ou sermão de conteúdo ou natureza cultural; 2) Discurso desnecessáriamente longo (e com freqüência desagradável) que tem como objetivo aumentar a cultura, mesmo a contragosto, dos ouvintes.

04 abril 2007

300

Os 300 de Esparta, Sim City, Frank Miller e o cinema...

Todo mundo sabe que 300, superprodução digital que estreou no Brasil nessa última sexta feira, é baseada na Graphic Novel homônima (mas que no Brasil foi renomeada "Os 300 de Esparta") do superestimado Frank Miller. Todo mundo sabe que ambos, o filme e os quadrinhos, contam a estória do Rei Leônidas de Esparta, que liderou 300 homens num combate suicida contra um exercido milhares de vezes maior do que o seu. Todo mundo sabe tudo a respeito do filme, antes mesmo de entrar na sala de projeção.
Deixe-me colocar desta forma: não que o filme seja ruim - longe disso -, mas ele certamente não é um filme inovador.
Um dos pontos fortes do filme é, com toda certeza, o gráfico. É um filme belíssimo. Cada cena parece ter sido pintada, de forma que, mesmo que você não tenha lido a revista - eu mesmo ainda não a li - é impossível que você não veja que aquilo pulando, gritando e respingando sangue na tela é uma cena diretamente tirada de uma revista em quadrinho! De fato, 300 é um filme que coroa esta boa fase pela qual o casamento das HQs e o cinema estão passando.
[Um detalhe muito curioso nessa história: o próprio Miller, quando escreveu a Graphic Novel nos anos 90, se baseou em um outro filme, de 1962: Os 300 de Esparta.]
Mas, eu já disse antes e mantenho: o filme não é perfeito. Não é só em termos visuais que esse filme é pouco original. O roteiro é divertido, mas parece apenas mais uma história de Frank Miller: a história de um herói, viril-porém-com-um-bom-coração, que luta bravamente uma luta inglória que ele não tem muitas chances de vencer, e faz a coisa correta sem se importar com as conseqüências... [Agora, releia esse páragrafo e substitua pelo seu herói favorito: Leônidas, Marv, Dwight, Hartigan, Batman, Demolidor, etc]. Miller não parece ter muitos pudores em relação ao que Mestra chama de auto-plágio.
E aquelas frases de efeito? Foi só eu que achei um pouco cansativas? Para aqueles que, como eu, viram os trailers de 300 e ficaram preocupados, eu trago palavras de conforto: Não se preocupem! O Rei Leonidas, personagem de Gerald Butler, não fica o tempo todo gritando e fazendo pose de macho durante a pelicula! Ele é mala? É inegável. Ele tira onda? É claro que tira - eu não acabei de falar que ele é mala? Mas, ao contrário do que o trailer dá a entender, Leonidas é capaz de dialogar sem recorrer a frases de efeito berradas e cheias de cuspe.
Alias, é essa pose de fodão um dos buracos mais desagradáveis do roteiro. Toda aquela guerra, e aquela matança, e aquela tensão, e pra que? Pros Espartanos poderem ficar andando por aí de sunguinha tirando onda sobre como eles são mais machos do que os atenienses. Sim, porque se você assistir o filme com bastante atenção, você vai reparar que em nenhum momento Leônidas vai dar um motivo melhor pra ter se metido naquela guerra de 300 x 1.000.000 do que ser teimoso e falastrão. Se você consegue olhar atráves daquela fantasia de Vera Verão que Xerxes (Rodrigo Santoro) usa, você vai reparar que os argumentos do persa são muito mais razoáveis do que os de Leônidas - que, pra ser bem honesto, nem se dar ao trabalho de usar propriamente um argumento. Parece que, pro Rei de Esparta, é mais importante mostrar que é um guerreiro muito foda do que salvar o seu país de ser escravizado pelos persas. E veja bem que eu nem estou falando sobre as imprecisões e falhas históricas. Eu não acho que a falta de fidelidade aos fatos reais seja uma falha do filme; pelo contrário, é um dos seus charmes. [Acho essa coisa de fazer filmes pretensamente realistas, que depõem personagens históricos das suas condições de mitos (como Alexandre ou Rei Arthur fizeram), bem, acho isso bem sem graça. ] Mas eu realmente espero que um personagem tenha motivações razoáveis, ou, se nenhuma motivação sensata se apresentar - afinal nem sempre os seres humanos são lá muito razoáveis - que pelo menos o roteirista possa me apresentar um personagem com motivações um pouco mais críveis.
Nota final: 7,0. Não é uma obra prima, mas é um filme divertido, como um filme de ação precisa ser.

Monalisa, de Leonardo da Vinci

Da série "Porque pagar sapo também é cultura!"

Bom, vocês sabem o que dizem sobre "qualquer semelhança" e coincidências... Felizmente, eu ouvi falar que o autor dessa aí já morreu a algum tempo, então acho que eu posso ficar tranqüilo quanto a essa coisa toda de direitos autorais.